terça-feira, 24 de novembro de 2009

Origem do Cristianismo


O Cristianismo, a maior religião do mundo, teve suas raízes na incorporação da crença na ressurreição dos mortos pelos judeus durante o cativeiro babilônico e na profecia de Miquéias sobre um libertador de Israel do jugo assírio. Após a frustrada tentativa de Yeshua (Jesus), culminando na sua execução, seus seguidores levaram ao mundo a crença de que ele ressuscitou e ainda retornará para estabelecer um reino divino perfeito e eterno no nosso planeta. A própria Bíblia nos mostra que os hebreus nada sabiam sobre ressurreição dos mortos antes do cativeiro babilônico. Entretanto, no final do livro de Daniel está escrito que um anjo lhe havia prometido a ressurreição e recompensa (Ver A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS). Embora ninguém dos historiadores dos dias de Jesus nada tenha dito sobre ele, acho mais lógico que Jesus realmente tenha existido do que tenha sido totalmente inventado. Temos informação de que houve mais de um herói que quis libertar Israel do jugo romano. O próprio livro de Atos dos Apóstolos fala de outros dois, Judas e Teudas (Atos, 5: 36, 37). Como, nos dias do domínio assírio, o profeta Miquéias prometera que um ungido de Judá destronaria aquele império e libertaria Israel, o que muito parece se referir a Josias, rei de Judá que pretendeu unificar os dois povos (Israel e Judá), os hebreus continuaram esperando que um dia surgisse esse ungido que os libertasse e estabelecesse aquele reino imbatível, uma vez que Josias não o fez. Jesus deve ter sido um dos que pretenderam combater o império romano, mas não conseguiram juntar guerreiros para o combate e foram executados. Talvez até seu nome tenha sido outro, e os seus seguidores o tenham mudado para dar o significado que tem: aquele que salva. É provável que Jesus, após se ver sem saída e na iminência de ser morto pelos romanos, porém crendo na doutrina da ressurreição dos mortos, tenha dito aos seus companheiros que retornaria quando ressuscitado por Yavé para derrotar os romanos e estabelecer o tão sonhado reino eterno. Morto Jesus, seus seguidores, crendo que ele seria ressuscitado, devem ter passado a pregar às outras pessoas que Jesus teria sido ressuscitado pelo deus Yavé e breve retornaria para ressuscitar a todos que cressem nele para formar o reino eterno. Em epístolas de Paulo, vemos que ele esperava que Jesus retornasse antes mesmo de sua morte (I Coríntios, 15: 51, 52; I Tessalonicenses, 4: 17). Como levantarem-se pessoas contra os romanos e serem executados era coisa bem banal naqueles dias, os historiadores da época não devem nem ter dado atenção a mais essa execução, ou Jesus (Yeshua) tenha sido um nome inventado para algum dos executados. Todavia, a doutrina da ressurreição de Jesus e de seus seguidores deve ter ido crescendo e aumentando os adeptos; e, à medida que o fato ficava mais distante, os contos a respeito de Jesus iam ficando mais elaborados, e foram surgindo os milagres de curas, ressurreições, etc. É claro que, se houvesse alguém capaz de fazer um aleijado se tornar normal e um cego enxergar, isso não iria passar sem que ninguém percebesse como nos mostra a falta de registros anteriormente aos evangelhos. Muito menos poderiam ocorrer ressurreições sem haver um grande tumulto que chegasse ao conhecimento de muita gente. Se Filão de Alexandria viveu nos dias de Jesus e nunca escreveu uma linha falando sobre Jesus e seus feitos, isso só nos leva a concluir que esse feitos são lendas. Outrossim, como poderia ter ocorrido três horas de escuridão e ninguém além dos cristãos ter tomado conhecimento? Algumas décadas após a execução desse herói, algumas pessoas escreveram próximo de uma centena dos chamados evangelhos. Eles eram extremamente contraditórios, o que deu origem a várias correntes doutrinárias cristãs. Entre os poucos textos selecionados posteriormente pela igreja romana para comporem o novo testamento, sendo os mais harmônicos, ainda há muitas divergências. Exemplo pode ser visto na justificação pela fé ou pelas obras comentadas divergentemente por Paulo e Tiago. Os evangelhos de Mateus e Lucas falam da destruição de Jerusalém pelos romanos como sendo o início da grande tribulação predita pelo profeta Daniel (Ver OS TEMPOS DOS GENTIOS). e afirmam que, passado aquele período difícil, Jesus estaria retornando para buscar seus escolhidos e estabelecer o reino divino. O apocalipse já fala do império romano como a besta de sete cabeças e dez chifres, mas apresenta ainda um outro poder seguinte representado por uma besta semelhante a touro com chifres de cordeiro antes do estabelecimento do reino de Jesus. São Pedro já disse que um dia iria haver um grande estrondo, e o mundo seria destruído pelo fogo, assim como, segundo eles criam, já havia sido destruído por água. Para ver como os cristãos usaram o velho testamento para tornar Jesus o messias, leia O MESSIAS DE BELÉM NUNCA EXISTIU NEM PODERÁ EXISTIR. Como alguns séculos depois o imperador romano se converteu ao cristianismo, este foi unificado segundo a doutrina prevalente em Roma, e todos as correntes divergentes foram extintas, é o que os estudiosos constatam dos registros encontrados, apesar de a igreja ter tentado destruir todos os escritos e qualquer outra coisa que fosse contrária à linha cristã de Roma. Os cristãos clandestinos, aqueles que divergiam do cristianismo romano, devem ter firmado muito sua fé nas afirmações de que Roma era a prostituta montada na besta e o cristianismo romano deve ter passado a ser visto como a besta pelos dissidentes. E é isso mesmo que diz o Apocalipse: a mulher é a "cidade que reina sobre os reis da Terra", cidade edificada sobre "sete montes". Não há como negar. Talvez a besta semelhante a touro com chifres de cordeiro no apocalipse tenha derivado da visão de alguém que já procurava combater o cristianismo romano. E esse livro chegou a ser rejeitado pela igreja, vindo posteriormente a ser aceito para fazer parte da Bíblia. Quanto às profecias de Daniel, é bom ler o meu artigo O FIM: ANTÍOCO EPÍFANES, IMPÉRIO ROMANO, OUTRO PODER FUTURO. No final da Idade Média, surgiram os protestantes, que conseguiram enfraquecer o Catolicismo, porém fortaleceram a crença em Jesus e na ressurreição dos mortos. A essa altura, os prodígios de Jesus já eram cristalizados como fatos incontestáveis pelos fiéis. No século XIX, alguns protestantes fizeram uma interpretação das profecias de Daniel, calculando que 1843 seria a data do retorno de Jesus. Como isso não ocorreu, recalcularam e pensaram que houvesse cometido um pequeno erro, devendo o evento ocorrer em 1844. Como naturalmente nada se cumpriu, refizeram a interpretação, passando a crer que, em vez da volta de Jesus, seria a passagem de Jesus do lugar santo para o lugar santíssimo do santuário que criam existir no céu. Assim, anda deveriam passara mais alguns anos até que ele retornasse. Como, diferentemente do livro de Daniel, o Apocalipse apresentam um outro poder perseguidor após o poder romano, passaram a pregar que os Estados Unidos, mediante o protestantismo unido como o catolicismo, dariam cumprimento à figura da besta semelhante ao touro, que fariam uma grande perseguição antes do retorno de Jesus; mas tudo isso deveria ocorrer brevemente, porque quase todos os sinais do fim já haviam ocorrido (Veja, por exemplo, AS ESTRELAS NÃO CAÍRAM PELA TERRA). Na década de oitenta, conheci um livro intitulado "ELLEN G. WHITE E A IGREJA ADVENTISTA". Segundo esse livro, Ellen G. White havia dito, na última conferência de que participou, já bem próximo a sua morte, em 1915, que a maioria daqueles que estavam ouvindo-a não passariam pela morte, mas estariam vivos por ocasião da volta de Jesus. Acredito que, se ainda existirem alguns das crianças daquele dia, não devem ser muitos. Há poucos anos, procurei com os adventistas o livro "ELLEN G. WHITE E A IGREJA ADVENTISTA" e o chamado "Crede nos seus profetas", mas me disseram desconhecê-los. Atualmente há milhares de ramos cristãos e todos eles têm suas maneiras de explicar a doutrina e justificar por que Jesus ainda não veio, cada um como o dono da verdade e negando a verdade dos outros. Há até aqueles que dizem que a volta de Jesus é apenas figurada; mas seus argumentos não têm convencido muita gente. Eles são uns poucos milhares no mundo. Talvez a gritante distância entre as crenças cristãs do novo testamento e as explicações de todos os ramos cristãos atuais seja a razão de o Islamismo, religião não cristã, ser a religião que mais cresce no mundo atual. Acho que atualmente corremos mais risco de um dia o mundo ser torturado pelo poder muçulmano do que qualquer dominador que possa surgir. O radicalismo religioso me assusta mais do que qualquer socialismo ou ditadura militar leiga. Mas espero que o conhecimento prevaleça sobre as crendices. Como todas as mitologias, a origem do Cristianismo, como acima deduzido, só pode ter sido desenvolvida aos poucos a partir de um grupo de adeptos da crença na ressurreição dos mortos cujo líder tenha mesmo sido executado pelos romanos. Só isso pode explicar a falta de registro sobre esse homem, chamado filho de Deus, ou mesmo Deus, que se tornou tão importante no decorrer dos séculos.

RESSURREIÇÃO DOS MORTOS

A ressurreição dos mortos é uma doutrina cristã, herdada de judeus que, por sua vez, a incorporaram das crenças babilônicas, persas e romanas. Não é encontrada no livro da lei mosaica, não está entre os patriarcas nem entre os profetas, com exceção de Daniel, cujo livro, ao que tudo nele indica, foi criado muito tempo depois do cativeiro babilônico, talvez algumas partes tenha sido escritas já sob o domínio romano. Daniel é o único livro que tem uma linguagem bem parecida com a cristã. Embora o Velho Testamento apresente casos de pessoas ressuscitadas, a lei mosaica não apresentou nenhuma promessa de recompensa em outra vida após a morte. A lei apresentou um deus severo, com promessas e ameaças nesta vida: “porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam” (Deuteronômio, 5: 9). E não prometia nada mais além do que se pudesse conceder aqui na terra: “Honra a teu pai e a tua mãe, como o senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na terra que o Senhor teu Deus te dá” (Deuteronômio, 5: 15). Em relação ao pós-morte, encontramos algumas opiniões: Jó disse: “Oxalá me encobrisses na sepultura e me ocultasse até que a tua ira se fosse, e me pusesses um prazo e depois te lembrasse de mim! Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó, l3: 13 e 14). Era assim que ele cria: “...o homem se deita, e não se levanta: enquanto existirem os céus não acordará, nem será despertado do seu sono” (Jó, 13: 12). Salomão não cria na existência de consciência após a morte: “Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Tanto o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram; nem têm eles daí em diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.” (Eclesiastes, 9:5, 6). A NOVA JERUSALÉM prometida pelo profeta Isaías era muito diferente daquela apresentada nas visões de João no Apocalipse: “Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão: Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo motivo de gozo. E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; mas o pecador de cem anos será amaldiçoado. E eles edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o fruto delas. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus escolhidos gozarão por longo tempo das obras das suas mãos: Não trabalharão debalde, nem terão filhos para calamidade; porque serão a descendência dos benditos do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles. E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor.” (Isaías, 65: 17 a 25). Aí vemos que as promessas de Jeová, do Velho Testamento, não eram nada após a morte, mas prosperidade aqui na Terra. No profeta Isaías, já encontramos alguns textos falando de ressurreição: “Os falecidos não tornarão a viver; os mortos não ressuscitarão; por isso os visitaste e destruíste, e fizeste perecer toda a sua memória” (Isaias, 26: 14). “Os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das sombras fá-lo-ás cair” (Isaias, 26: 19). Lendo todo o texto, percebe-se que não estava o profeta falando de uma ressurreição dos mortos em um dia de juízo final como se fala no Novo Testamento; tanto que, ao se referir a Israel, fala que “teus mortos ressuscitarão” e, ao se referir aos inimigos, diz “os mortos não ressuscitarão”. Se ele já cria que os hebreus fossem ressuscitar, achava que os outros povos não teriam ressurreição. Só posteriormente é que devem ter desenvolvido essa idéia de que os maus ressuscitam para serem punidos. Por outro lado, apesar da crença expressa na lei mosaica, nos livros que segue ao Pentateuco e na maioria dos profetas, a crença na ressurreição já aparece bem cristalizada em Daniel. As profecias de Daniel apresentam coisas muito coincidentes com o cristianismo, e a promessa de recompensa após a morte e ressurreição. No último capítulo está escrito que, em sua última visão, disse ter recebido a mensagem angélica: “...descansarás, e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança” (Daniel, 12: 13). Há informações de que o primeiro contato dos hebreus com a crença na ressurreição dos mortos se deu sob os domínios babilônico e medo-persa. E o texto acima parece ter sido escrito nos dias da vitória de Judas Macabeu e restauração do santuário profanado por Antíoco Epífanes. “O reino unificado de Judeia e de Israel teve o seu último período de esplendor com Salomão (século X a.C), após a sua morte foi o mesmo dividido. No final do século VIII a.C Israel foi conquistada pela assíria, sendo muitos dos seus habitantes levados para a Assíria, tendo aí desaparecido, sendo hoje conhecidos como as dez tribos perdidas de Israel. O reino da judeia manteve a sua independência a troco de um pesado tributo. Cerca de 150 anos mais tarde, os babilónios tomam a sua capital - Jesusalém -, e arrasam-na (586 a.C), levando consigo grande número de prisioneiros. No seu cativeiro na Babilónia os judeus absorveram aí muitos conceitos novos que vieram a incorporar no judaísmo: Ressurreição dos Mortos, Inferno, Demónios, Apocalipse, etc. Como dissemos, a partir de meados do séc.VIII a..C o judaísmo entra num período de grande produção doutrinária, conhecido pela ‘tempo dos profetas’. Estes afirmam de forma clara a universalidade e unicidade de Deus.” (Carlos Fontes, Origem da Filosofia). Está escrito que o próprio Jesus, para convencer os saduceus de sua doutrina da ressurreição, não apresentou nenhuma afirmação antiga que falasse diretamente dela, mas disse: “E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que foi dito por Deus: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos” (Mateus, 22: 31,32). O evangelho de Mateus fala de Daniel, mas parece que seu autor não conhecida o capítulo 12: 13). Se conhecesse, teria apresentado isso como argumento de Jesus. O fato de os saduceus não crerem na ressurreição é uma evidência de que essa idéia era nova entre os hebreus. A grande diferença que os religiosos não vêem entre o Velho e o Novo Testamento é que, no Velho, Jeová prometia prosperidade aqui na Terra, e no Novo, Jesus prometeu recompensa após a morte e ressurreição. Compare-se a Nova Jerusalém de Isaías (Isaías, 65: 17-25) e a Nova Jerusalém de João (Apocalipse, 21 e 22). Entre outras diferenças, na primeira, haveria muita prosperidade, mas tudo dentro na normalidade terrena, com pecado e morte; na segunda, a imortalidade e a inexistência do pecado. Não percebem que a ressurreição foi introduzida nas cabeças dos hebreus em época bem posterior ao começo da formação da Bíblia.
João de Freitas

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